terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

JULIANO E BENEDITA

A EXTINÇÃO DE PROFESSORES



O ano é 2.020 D.C. - ou seja, daqui a nove anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:

– Vovô, por que o mundo está acabando?

A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:

– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.

– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?

– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.

– E como foi que eles desapareceram, vovô?

– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.

Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.

Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.

FATO

MEDO


Era uma palavra...

Apenas uma palavra e, no entanto os meus lábios selaram anos de inconformismo e dor.

Como se o organismo se recusasse a ser feliz,

a fazer as coisas bem...

Sabes que deixar de ser "eu",

para ser nós é um processo lento e nem sempre bem sucedido.

A mente é dona de estranhos buracos e armadilhas.

Penso que também sabes isso.

Por isso torna-se inútil dizer-te palavras que conheces

e mesmo assim recusas entender.

Dói-me lembrar-te ajoelhada a meus pés a implorar perdão

por um pecado que nem sabes que cometes.

Dói-me porque queres apagar as minhas lágrimas com as tuas.

Era apenas uma palavra...

Uma palavra a negar a estranha necessidade de ser tua sem o ser.

Sabes que quis fugir?

Fugir de ti, fugir do amor que te tenho e me prende as asas...

Fugir de ti e consumir-me nesta infelicidade mórbida.

Ainda assim, agarraste-me com força,

as lágrimas a escorrerem-te pela face,

a desfazerem-te o coração.

Sabes que sou covarde?

Sim...

Profundamente covarde.

Estupidamente covarde e,

no entanto amas-me assim.

Ou aprendeste a amar-me.

Qual das duas foi, interrogo-me...

Mas por muito que o faça nunca vou descobrir.

Porque as tuas mãos se selaram em volta das minhas,

os teus braços esmagaram a minha covardia,

o meu medo de amar.

Ser feliz nem sempre é fácil, sabias?

Ser feliz às vezes também dói.

Porque ter-te a meu lado é toda a minha felicidade,

a minha única felicidade e no entanto por vezes parece-me tão distante,

tão hercúleo.

Mesmo quando abafas as minhas lágrimas nas tuas.

Já te disse que ficas linda quando choras?

Na infelicidade também existe poesia.

Nos teus olhos perfeitos de lágrimas também existe amor.

E por isso é bela.

É nas tuas lágrimas que vejo o meu coração.

Porque ele está dentro de ti.

Numa profundidade que só as lágrimas alcançam.

Sim...

É em ti que vivo e, no entanto quis fugir de ti,

trazendo a morte no regaço.

Por que, perguntas-me tu, e deitas-te em mim,

e sufocas-me de beijos e amor.

Porque amar-te é a única coisa que não sei fazer.

Porque me surpreendo a cada dia com este amor.

Porque ele me ultrapassa e me enche de maresia.

E por isso amor, tenho medo.

Medo da grandiosidade.

Medo de precisar de ti mais do que precisas de mim.

Medo de acordar de um sonho e morrer a recordar os teus lábios...

Medo do medo de amar.

E ainda assim, enlaças-me em ti.

Quero-te, dizes tu.

E eu sei, estranhamente, que é verdade.

Sei...

E assim silencio o medo,

apago as lágrimas e adormeço em ti.