sábado, 13 de agosto de 2011

DIÁLOGO DE ADOLESCENTES


- Oba! As aulas recomeçaram, já estava enjoada das férias, não estava mais agüentando o ritmo parado das coisas, fiz tudo nestas férias, só não li, não escrevi, não copiei nada, só de ver um lápis ou uma caneta me arrepiava toda, dos meus cadernos? Fiz aviãozinhos e despachei rumo ao espaço. Mas... não fazer nada também cansa, que bom que as férias acabaram, posso voltar para a escola, rever os amigos, matar saudades, torcer para que alguns dos professores retornem ou que não voltem mais. Agora, estudar? Isto vai ser outros quinhentos.

- Eu, aproveitei, fiz de tudo que tinha direito, escrevi tudo que me veio na cabeça e sonhei que vou aprender mais, fui na Costa Azul, paquerei os meninos do Voley de areia e levei a maior bronca do meu pai porque fui sem avisar... ah! Briguei com Paulo porque fiquei com o Daniel no domingo, mas nós só estávamos conversando...

Essas foram as palavras de duas adolescentes que ouvi no último domingo, sorri comigo mesma, pois sei exatamente o que os adolescentes fazem nas férias. Eles se preparam para o carnaval e esperam voltar para a escola, vão uma semana conhecer os novos professores, reencontrar os amigos, mata a saudade e ganham uma semana de “férias” para brincar no carnaval. Daí sim é hora de voltar para a escola, e levar a sério o sonho de formar-se no que mais se identifica. Alguns param na metade do caminho, outros conseguem ir até o fim, mais a trancos e barrancos.

É bonito por demais ver a volta às aulas. No primeiro dia as ruas se enchem de crianças com mochilas, de mãos dadas com suas mães, adolescentes e adultos abraçados aos cadernos, caminhando todos para o mesmo local, onde durante o ano todo farão descobertas para não parar no tempo em conhecimentos.

Nos rostos, expressões de ansiedade, a esperança nos olhos de que tudo seja novo, melhor do que no ano passado, faz com que a adrenalina suba a mil por hora, depois o ritmo volta à normalidade.

As adolescentes do diálogo acima fazem parte de uma mesma turma, mas mesmo assim, notamos as divergências nos pensamentos, as diferenças gritantes no meio delas e rebate na parede do futuro.

Férias, escola, carnaval, escola de novo, são rotatividade na vida que nos mostram que, se não ficamos atualizados, em sintonia com o presente, o futuro será meramente um reflexo do passado.

Com o tempo os adolescentes estão aprendendo a dialogar sem que precisem usar muitas gírias, estão conquistando espaços e confiança, pois o futuro só será construído com dignidade se os jovens se tornarem adultos participativos na comunidade.

Juízo e coerência não combinam com os jovens, mas as férias servem mesmo para que eles sintam falta da escola e vontade de voltar. Onde encontrariam lugar de maior liberdade e segurança? Onde mais eles têm permissão para pesquisar e arquivar na memória conhecimentos que os fazem ficarem inteligentes, muito inteligentes perante a sociedade em que vivem? Lutar pelo espaço que cabe a cada um por direito da natureza.

As duas adolescentes do “papo” acima aprenderão isso, mais cedo ou mais tarde.

Senão... serão somente duas adolescentes que se transformarão em “criaturas que a vida pode moldar a maneira que quiser”.

Como diz um poeta: “tudo que existe em mim, é meu, mas posso e devo repartir com as pessoas que me rodeiam. Inclui-se aí, o que aprendi na escola”.

Oba! As férias acabaram!!!

E o meu sonho de ter um carro folheado a ouro ainda está apenas começando...

Vandenilza Caldonazzo

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